quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PORQUE OS HOMENS SEMPRE VÃO ALI... (Para Nelson Rodrigues)


(Picasso)


Cremilda era daquelas mulheres domésticas, sempre muito preocupadas com o desenrolar dos dias e da família. Casada com Ariovaldo e mãe de Tiago. Uma coisa a chateava: sempre que um dos dois tinha que sair, nunca gostavam de dar sinais do seu paradeiro.
- Mulher, vou ali e já volto.
Em seguida seu filho:
- Mãe, vou ali e chego já.
Alguém bate à porta:
- Seu Ariovaldo está?
- Não, foi ali...
- Tá, bom dia pra senhora. Vou ali vê se vejo ele.
Mas esse dia, como todos os outros dias, foi diferente. Ela resolveu ir ali pra ver que mistério se escondia por trás de três letras (ela pensava por que nunca decerto falar para onde vai) Talvez fosse mais sensato omitir que mentir.
No seu decidir, pegou sua bolsinha de documentos, olhou-se no espelho, arrumou o vestido no corpo, sacudiu os cabelos (como quem tenta sacudir a cuca por dentro).
Deliciosa com seu rebolado, andar rápido e decidido, chega à esquina onde se tem como referência o bar do Sr. Américo. Cremilda avista, os três (marido, filho e amigo), todos sentados à mesa, numa verdadeira confraria: seu marido tomava cana com bolo de chocolate. Seu filho degustava com um chiclete big big. E o amigo, que tinha ido procura-lo, tomava com seriguela. Portanto seria cômico se não fosse trágico! (pensava ela)
- Oi mulher, que estais fazendo aqui?
Abanando-se com o leque:
- Tomando um ar... Tá tão quente, né?... Eu tava vendo a hora pegar fogo comigo e tudo mais lá em casa...(dando uma rabissaca)
- Para onde vais, mulher?
Tranquila e em sã consciência:
- Vou ali!...
E era logo ali, bem ali na cama do casal, onde o gostosão do vizinho a esperava para proporcionar-lhe um dia bem mais feliz.

(UM CONTO DE CECÍLIA VILLANOVA)

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