quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Recife, Hotel Rex, setembro de 1998




Poucas vezes na vida consegui dar boas gargalhadas. Portanto esse dia foi um marco em minha vida...

Eu e Fred morávamos no Hotel Rex, sito rua Barão de São Borja, na Boa Vista. Dividíamos o quarto com pequenas baratas que saiam do piso em madeira. Havia apenas dois cômodos: quarto e banheiro. Ali mesmo cozinhávamos, lavávamos roupas, pratos e tomávamos banho. Se pra cozinhar também tinha que ser ali, decidimos então, trocar nosso fogareiro elétrico, comprado no camelódromo, que levava umas 4 horas para cozinhar um feijão, por um fogãozinho de duas bocas(aquele pequenininho que mais se parece de casinha de boneca)

No Hotel sempre foi proibido cozinhar com gás, devido ao risco de incêndio. Ainda por cima, um hotel secular, com madeira por todos os lados.

Mas naquele dia, naquele dia, resolvemos fazer diferente.

Descemos do hotel com o bojão vazio dentro de uma bolsa de viagem para não dar pista. Andamos até a Ilha do Leite, onde trocamos o nosso bojãozinho vazio pelo cheio.

Chegando ao hotel, com o bojão cheio dentro da bolsa, demos um boa tarde bem sorridente aos funcionários, que de nada desconfiaram. Subimos aquela escada secular, circular em madeira, felizes em imaginar que nosso “sofrimento” seria amenizado e que enfim perderíamos menos tempo cozinhando e ganharíamos mais tempo para vender nossos folhetos de poesia.

Entramos, fechamos o quarto e começamos o processo: Fred pegou o bojão e tentou encaixar ao relógio. Mas, para nosso “azar”, começou a escapar muito gás. Havia um defeito onde não conseguíamos detectar. Formou-se uma nuvem de gás dentro do quarto. Fred colocou o bojão debaixo do chuveiro . Antes de que eu saísse do quarto, combinamos em dizer que não sentíamos cheiro algum. Sai do quarto e fui à varanda, mas fiquei preocupada com Fred lá dentro(inalando aquele gás). Há essas alturas a fumaça do gás já se espalhava pelo corredor.

Sobe um funcionário aos berros:

- Alguém está usando gás aí?

(silêncio absoluto)

Eu disfarçadamente na varanda apreciando o céu...

- Madame, a senhora não está sentindo um cheiro de gás?

- Gás??? Não!!!

Ele percebia que vinha do nosso quarto... Então dirigiu-se à porta batendo e gritando:

- Dr. Fred, o senhor não está sentindo um cheiro de gás?

E eu imaginava... Como Fred está?

De repente Fred abre meia porta, coloca apenas o rosto para fora como quem quer esconder algo e diz:

- Não, não estou sentindo nada! (com cara de interrogação)

O funcionário ficou enlouquecido e fingiu acreditar (ele não podia invadir nosso quarto)

Esperamos ele descer.

Entrei no quarto:

- Fred, você está bem? Vamos sair daqui! (Ele tinha uma camisa amarrada cobrindo o nariz)

Já era noite...Pegamos o bojãozinho, colocamos na mesma mochila e descemos descaradamente passando pela recepção, dando uma boa noite aos funcionários. Fomos para a rua ao lado, de onde víamos o hotel e acabamos tendo uma crise de risos. Eu ria de quase me mijar e dizia em alto e bom tom(depois de passado o perigo):

- AGORA VAMOS ESPERAR O HOTEL EXPLODIR! (repetia várias vezes tropeçando o riso em palavras)

Villanova, Cecília. Antes que eu esqueça.

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