sexta-feira, 4 de maio de 2012

SEVERINA, QUANTA ESTIMA!

Acabara de alugar um imóvel nos fundos do quintal de outra casa. Na verdade, um cubículo onde lhe cabia com seus poucos troços. Godofredo, com seus 51 anos, careca e com uma barriga pra lá de simpática, era um solteirão convicto e trabalhador. Durante cinco dias da semana batia seu ponto regularmente e o era fiel ao seu patrão, que sempre lhe colocava em destaque por atingir metas surpreendentes no trabalho. Assim era sua vida: de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Sem muito lazer. Ele se contentava em atingir metas e alcançar destaque.

Porém, Godofredo tinha muito prazer em fazer comidinhas no final de semana e de deliciá-las em frente a TV. Seus pratos preferidos eram os com tomates, já que tinha visto na televisão que o tomate seria um bom aliado contra o câncer de próstata. Godofredo, então, fartava-se de massas, com bastante molho de tomate, tomates crus ao molho de tomate...

Até que um dia ele descobriu que não morava sozinho, foi quando avistou da sua cozinha, que dava para seu humilde quintal, uma lagartixa que vislumbrou e passou a chamá-la de Severina. E começou a pensar que ela também poderia gostar de tomates. Foi então que sacudiu um pedacinho e gritou: - Severina, venha pegar!

Severina parecia entender e ia depressa comer aqueles pedacinhos de tomates atirados com tanto carinho. Até que tornou um hábito de Godofredo, todos os dias alimentar Severina com pequenos pedaços de tomates. Ele a tinha como grande companhia!...

Um dia, de domingo por sinal, após uma semana de muito trabalho, chega mais um final de semana, onde Godofredo poderá fartar-se com suas massas banhadas ao molho de tomate. Passava um pouco mais de das 23:00h do domingo, já era hora de ir para cama, após fartar-se com tomates e alimentar Severina.

Chega o alvorecer da segunda-feira... Godofredo levanta-se com seu reloginho biológico e vai até a cozinha beber um pouco de água, quando depara-se com uma mulher na sua cozinha, ou melhor, a beira do seu fogão cozinhando um molho de tomate regado a muito orégano.

Sem titubiar, dá um gole na água e joga o restante em seu rosto. Ele não acredita no que vê! Pensa ainda estar dormindo. Mas, logo percebe que não. Porque aquela mulher lhe sorri e diz: - Bom dia Godofredo, sou sua Severina!

Godofredo: - Não, não, não é possível!... Saia já daqui! Assustado e com muito medo. O que quer de mim? ”Sou apenas um latino americano, sem dinheiro no banco...”

Severina: - Calma Godô!_ carinhosamente_ vim fazer nossas panquecas regadas ao molho de tomate para você saboreá-las comigo em seu horário de almoço.

Godofredo: - Você só pode ser uma assombração ou coisa parecida! Recorre à vassoura, expulsando Severina de cima da frigideira, que logo salta de volta para o quintal. Godofredo se vê apavorado e percebe que quase machuca a pobre e tão estimada Severina. Rapidamente vai para o quarto, senta-se diante o espelho: -Sou um covarde, serei sempre um covarde!...Caindo aos prantos, batendo em seu rosto, a se autoflagelar.

Estaria Godofredo alucinado por comer tantos tomates???...Pouquíssimo provável, já que o tomate não contém nenhum alucinógeno em sua composição.

Ele precisava mesmo de uma companhia humana, seu cérebro acabara de lhe avisar.

E haja tamanha imaginação para um homem solteiro! (Ahahahahahahahahahahahahahaha!...)


(UM CONTO DE CECÍLIA VILLANOVA)

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