domingo, 9 de setembro de 2012

POEMA DE MAIAKÓVSKI DEDICADO AO COMUNISMO GANHA PRIMEIRA TRADUÇÃO INTEGRAL


Vladimir Vladimirovicth Maiakóvski tinha 24 anos quando os bolcheviques chegaram ao poder, depondo a monarquia czarista russa, em 1917.

Russo de origem georgiana, foi considerado o grande poeta da Revolução de Outubro e um dos principais artistas engajados soviéticos -aqueles cuja produção tinha temas sociais e propagava os princípios revolucionários.

Maiakóvski publicou seu primeiro poema, "Noite", em 1912, numa seleção de textos editada pelo escritor, artista e mecenas David Burliuk (1882-1967), um dos pais do futurismo literário russo.

Paralelamente à produção poética, ele foi também dramaturgo - sua peça "Mistério-bufo", dirigida por Meyerhold e com cenários de Maliévitch, integrou as comemorações do primeiro aniversário da Revolução Russa.

Após a morte de Lênin, em 1924, escreveu o poema em homenagem ao líder, que hoje pode ser visto como panfletário, mas reflete a época e os eventos.

Após a chegada ao poder de Stálin, em 1922, mostra-se deprimido. Termina o poema "A Plenos Pulmões" e se mata com um tiro, em 14 de abril de 1930.

Para traduzir um poema sobre o líder de uma revolução comunista, o PC do B convocou a filha de Luís Carlos Prestes. A editora Anita Garibaldi e a Fundação Mauricio Grabois, ligada ao partido, estão lançando "Vladimir Ilitch Lenin", de Vladimir Maiakóvski (1893-1930), com tradução de Zoia Prestes.

Escrito em 1924, ano da morte do chefe da Revolução Bolchevique, o texto estava inédito no Brasil em sua forma integral -trechos haviam sido publicados, com tradução de Carrera Guerra, em "Maiakóvski - Antologia Poética" (Max Limonad, 1987).

Zoia conta ter sido procurada pela editora, que tinha esse projeto para comemorar os 90 anos do PC do B.

Para ela, que viveu em Moscou entre 1970 e 1985, o livro evoca memórias de infância, quando os textos de Maiakóvski -parte do currículo escolar da então União Soviética- a apaixonaram.

"Eu participava de concursos de declamação de poesia com meus irmãos. Ganhei o livro como prêmio em um deles, um exemplar bonito, com pequenas fotos, a partir do qual fiz a tradução", conta.

No autobiográfico "Eu Mesmo", Maiakóvski relata ter tido medo, ao escrever "Lênin", de "descer à mera paráfrase política". Zoia também abordou o poema com medo, mas de outra ordem:
professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, jamais havia traduzido poesia. "Os poetas que me perdoem. Acho que não ficou tão ruim."

Sua escolha foi priorizar o significado, tentando preservar a forma do texto, com a idiossincrática disposição "escalonada" dos versos.

"Traduzi palavra por palavra, embora de vez em quando tivesse de mudar a ordem, devido à diferente estrutura gramatical das línguas", diz.

O resultado soa bem diferente das célebres recriações feitas pela trinca Boris Schnaiderman, Haroldo e Augusto de Campos na antologia do poeta russo publicada em 1982 pela Perspectiva, com diversas reedições posteriores.

A filha do Cavaleiro da Esperança traduzindo uma ode do grande poeta da Revolução de Outubro ao artífice dos eventos de 1917, dedicada ao Partido Comunista Russo, para uma efeméride do Partido Comunista do Brasil. Mera exaltação? Zoia argumenta:


"Sou grande admiradora de Maiakóvski, não apenas porque meus pais foram comunistas", conta ela.

"Traduzi a biografia de Maiakóvski, para a Record, e paguei do meu bolso a viagem a Moscou para negociar os direitos e entrevistar o autor, Aleksandr Mikhailov".

A tradutora se mostra atenta às ambiguidades em torno não só da obra mas da trajetória pessoal de Maiakóvski.

"O poema mostra a grandiosidade do líder, mas mostra também que, com a sua morte, viria uma ruptura", afirma, já apontando para o fato que o linguista Roman Jakobson (1896-1982) descreveria, em "A Geração que Esbanjou Seus Poetas", como o "suicídio anunciado" de Maiakóvski, em 1930, seis anos após a morte de Lênin.

VLADIMIR ILITCH LENIN
AUTOR Vladimir Maiakóvski
EDITORA Anita Garibaldi/Fundação Mauricio Grabois
TRADUÇÃO Zoia Prestes
QUANTO R$ 80 (234 págs.)

Fonte: Folha de São Paulo