CECÍLIA VILLANOVA – UMA TRAJETÓRIA POÉTICA


CANTO DE AMOR AO POEMA

Mas, não emudecerão
Meus pensamentos
Nem secará a tinta de sangue
Que goteja de minhas mãos.
O poema, em mim, inunda
Tal qual um rio
Feito de lágrimas,
Águas Claras ...
De onde emerge vida.
             
                        (Cecília Villanova)




"A poesia surgiu em minha vida como herança genética.  Meus avós, tanto materno quanto paterno, já escreviam seus versos em meados da década de 20, 30...


Cresci ouvindo minha mãe recitar poesias de poetas como Augusto dos Anjos, Virgínia Victorino, do meu avô, dos meus tios e dela mesma.


Venho de uma família de escritores, o que nos possibilitou ter um “pezinho” na literatura.


Meu pai, um amante da música, contribuiu muito para que as letras “invadissem” meus ouvidos. Lembro-me bem da nossa vitrola alemã, onde se ouvia muita Bossa Nova, Clássicas, a velha guarda da MPB... Portanto, eu não poderia ser indiferente a tantos sentimentos.


Em 1995, quando fazia magistério, comecei a freqüentar a Livraria Livro 7, onde havia recitais de poesia com integrantes do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco e poetas afins. Eu já havia escrito alguns versos, porém nunca publicados.


Em contato com os poetas “marginais”,  poesias de minha autoria passaram a ser publicadas em fanzines e jornais alternativos de poesia. Entre eles: CAOS(Zizo), BALAIO DE GATO(Jorge Lopes), JORNAL LÍTERO – PESSIMISTA(Francisco Espinhara), entre tantos outros...


Em 1998, em parceria com o poeta Fred Caminha, com quem tive uma filha, publiquei meu primeiro folheto de poesias, o CURTÍSSIMO. Um folheto vendido em massa na cidade do Recife, pela Rua do Bom Jesus e universidades. A partir daí, nunca parei de publicar e outros folhetos foram surgindo em minha vida.


Ainda em parceria com Fred, publicamos: CURTA POEMA e 2 EM 1 POEMAS.


Folhetos individuais, publiquei: POETIMARGEM, POEMAS e VERSUDIVERSUS, na cidade do Recife, no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.


Em 1999, participei do primeiro CD independente de poetas: VÁRIOS POEMAS VÁRIOS – 25 POETAS CONTEMPORÂNEOS. Organizado por Francisco Espinhara, Wilson Vieira e Ceará Viola.


Em 2003 publiquei meu primeiro livro de poesias, intitulado ARMAZÉM POÉTICO. Com prefácio de Juareiz Correya, citações de Raimundo Carrero, Alberto Cunha Melo, Francisco Espinhara e Cida Pedrosa.


Em 2004, fui publicada pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife na COLETÂNEA POÉTICA MARGINAL RECIFE III. 


Considero-me uma poeta atemporal e universal. 


Escrevo, publico e vendo minhas poesias e contos. Acho que o artista tem que ir onde o povo está!


Portanto, este será sempre o meu ofício, tenho prazer em fazê-lo! Regozija-me ser sempre reconhecida como a poeta vendedora de folhetos".  

(Cecília Villanova)

MAIS POESIAS DE CECÍLIA VILLANOVA





REFLEXO


Quando as minhas mãos
Deixarem de ser acesas...
Serei mais que luz.
Estarei presentemente
Dentro dos teus olhos.
E aí me servirás de espelho.
E eu me verei
E tu te verás:
nos meus olhos
e nos teus olhos...




O PAPEL


Olhei-o de uma só vez,
Lá estava ele, branquinho...
Atirei-lhe os sentimentos,
Tornei-o vivo.
Já não era vazio.
Enchia-me os olhos-
Lá estava o pensamento.
Seu papel, seu destino,
Fôra para sempre destinado
Com um poema carimbado.















A VOZ DO POETA


Nós, poetas, somos instrumento
Para o povo.
Assim como todos os dias
O sol se faz necessário,
Também é a voz do poeta.
Que, silenciosa, arrebata do peito
Em forma de revolução
E sai transfigurada no papel.






DOS ÓRGÃOS DEPENDENTES


Sentimentos...
Não os sei passar para o papel?
Parecem que vão explodir
Da cabeça ao coração,
Do coração à garganta,
Da garganta à língua__
Farta , fértil ,frágil e singular.



A ESMO


...como é bom ficar distraída
a passar o tempo
olhando o tempo.
Como se o vento , leve brisa
Fosse carregando-me
Infinitamente
Para algum lugar
Sem limites...
Lá sentir-me nuvem...
Doce algodão,
A deslizar no céu
E só passar,passar, passar...


GESTAÇÃO I


Esperar que as letras
Se cruzem no pensamento
E se formulem palavras concretas,
É o que neste momento espero.
Mas, como sinto, logo não exaspero.




GESTAÇÃO II


Adormece em mim um poema.
Ele está mais vivo aqui dentro
Que no papel frio,creio.
Será necessário amadurecê-lo
E tê-lo?




GESTAÇÃO III


Estou gestante de mim
Estou grávida de minhas palavras
Gestos em mim...
Palavras e gente
Vida nascente
Corpo-semente.



AUTO-FLAGELO


Uma cena estúpida?
- Um poeta escreve
e rasga seus sentimentos.


AUTO-EXÍLIO


DEU VONTADE
DE IR EMBORA,
BATER A PORTA,
FECHÁ-LA PARA SEMPRE.
SAIR
E NÃO ME DEIXAR ENTRAR.




TEMPO


Como numa batalha avassaladora
Não tive medo,
Fui encontrar-me com o espelho.
Pensava que o espelho fosse
Baralho cigano,
Mas de cigano, só minha vida...
É; o espelho não mente,
Ele mostra a nossa cara
Pra cara da gente.
Mostrou-me as horas
Que ficaram para trás
E que estavam estampadas
Nas rugas do meu rosto.




CASÓRIO


Minha caneta faz cócegas no papel.
A caneta e o papel:
Casamento perfeito!
Para testemunha:
O poeta.




O HOMEM E O OBJETO


O homem...
O homem e seu objeto.
O homem, objeto do homem.
O objeto, natureza do homem.
O homem, sozinho.
O objeto, vazio.
O homem, expressão de sentimentos.
O objeto: imóvel, útil, decorativo...
O homem, armazém de idéias.
O objeto, um armário...
O homem, ciclo.
O objeto, reciclável.




TORMENTO


Teus ouvidos estão surdos.
Tua boca está muda.
Teus olhos vêem coisas vãs.
Teu corpo não se harmoniza
Com o estado lógico e perfeito.
Tudo muda a cada instante.
A vida passa e permanece
No outro
Bem próximo e distante.

















O vento varria tudo:
Varria o medo,
Varria meus pensamentos
E até o que eu não sabia.
Varria a solidão
Com seus músculos sólidos,
Varria o tempo,
Varria a chuva
Levando embora
Algumas folhas de nossas vidas.




MÃEGUEIRA
À minha filha Maria Cecília


Tens o dom de acolher
Para se fazer ninhos.


És mãe com sua enorme beleza,
Doçura e carinho.


Nos dá a paz que necessitamos
Ao longo do caminho...


Com o seu balançar,
Fazendo barulhinho, ouvimos o teu cantar.




DA SOLIDÃO


Na rua onde moro
Existem três casinhas bem juntinhas:
Como pequenos vagões de trens,
Como três lindos jarros.
Dentro delas há uma mulher:
Triste e sozinha.




O TEMPO É UM VENTO SORRATEIRO
QUE PASSA SOBRE NOSSO ROSTO
E VAI DEIXANDO SUAS MARCAS.




FOTOGRAFIA


Quando enfim, findar-me o dia
não me transformarei em pó;
decompor-me-ei em palavras, sons
nas mais variadas fontes
manuscritas, digitadas
Estarei viva
nos olhos de quem lê,
na língua dos que soletram-me
e nos sinais gráficos que agora decifras.
Eu sou o poema que agora lês,
a curvatura das letras,
as reticências...
O ponto final.









E QUEM NÃO OUSOU ESCREVER
A SUA PRÓPRIA HISTÓRIA?
ESTE,TALVEZ, SE PERDEU NO CAMINHO.






DÚVIDAS...
O QUE FAZER COM ELAS?
DUVIDE DELAS!

3 comentários:

zenaide barbosa disse...

excelente prova de que a poesia pernambucana esta vivagostaria de ober trabalhos teus e gostaria de saber sobre poesia marginal como ler mais sobre o zizo caos por favor entre em contato comigo

Art'palavra disse...

Olá, Cecília: parabéns pelo fazer poético e grata por acolher meus versos no seu blog. Saudações, Graça Graúna

Art'palavra disse...

Olá, Cecília. parabéns pelo fazer poético e obrigada por acolher os meus versos. Saudações, Graça Graúna