quarta-feira, 9 de junho de 2010

CENTENÁRIO DE PAGÚ



Hoje, 09 de junho de 2010, Patrícia Rehder Galvão(1910 - 1962) faria 100 anos.
Conhecida pelo pseudônimo de Pagú, foi escritora, poeta, jornalista, militante comunista e musa do Movimento Antropofágico.

Foi uma mulher "avançada" para época por "quebrar" alguns conceitos conservadores da sociedade, como falar palavrões, fumar na rua, ter cabelos cortados e eriçados, usar blusas transparentes.

Não participou da Semana de Arte Moderna por ter apenas 12 anos em 1922.

Aos 18 anos participa do Movimento Antropofágico com o casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

Em 1930, Oswald separa-se de Tarsila e casa-se com Pagú com quem tem o filho Rudá de Andrade.

Pagú viveu para o comunismo e teve vida bastante conturbada por sucessivas prisões, ao todo 23.

Em 1933 viaja pelo mundo deixando no Brasil Oswald e Rudá.

Em 1935 é presa em Paris, como comunista estrangeira e é repatriada para o Brasil.

Separa-se de Oswald e casa-se com Geraldo Ferraz com quem tem seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz.

Em 1940, rompe com o partido comunista e passa a defender a linha trotskista.

Dedicou-se ao teatro, escreveu romances, contos policiais, candidatou-se a deputada
estadual em 1950.

Contudo foi acometida de um câncer e tenta suicídio sem êxito, vindo a falecer em 12 de dezembro de 1962.

ALGUMAS POESIAS DE PAGÚ


UM PEIXE

Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.

(Pagú/Patricia Rehder Galvão)



NOTHING

Nada nada nada
Nada mais do que nada
Porque vocês querem que exista apenas o nada
Pois existe o só nada
Um pára-brisa partido uma perna quebrada
O nada
Fisionomias massacradas
Tipóias em meus amigos
Portas arrombadas
Abertas para o nada
Um choro de criança
Uma lágrima de mulher à-toa
Que quer dizer nada
Um quarto meio escuro
Com um abajur quebrado
Meninas que dançavam
Que conversavam
Nada
Um copo de conhaque
Um teatro
Um precipício
Talvez o precipício queira dizer nada
Uma carteirinha de travel's check
Uma partida for two nada
Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas
Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava
Um cão rosnava na minha estrada
Um papagaio falava coisas tão engraçadas
Pastorinhas entraram em meu caminho
Num samba morenamente cadenciado
Abri o meu abraço aos amigos de sempre
Poetas compareceram
Alguns escritores
Gente de teatro
Birutas no aeroporto
E nada.

(Pagú/Patricia Rehder Galvão)

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