Os 20 poemas presentes no livro Armazém Poético de Cecília Villanova ( Livro Rápido, 2003, 63p.), dividido em três partes: Acerca do poeta e do poema; outros poemas e em memória. Traduz de certa maneira um poemático com “ a contenção lírica ( tão incomum às vozes femininas ) e sobretudo, muitas vezes, a reflexão ( poética ) metalingüística fazem a voz distintíssima de Cecília Villanova, uma poeta em franca madureza” – Francisco Espinhara. Sem querer fazer nenhuma contrapartida.
Na primeira parte do livro, acerca do poeta e do poema, Cecília Villanova reflete o duelo entre o sentimento e a razão, e usa a metalinguagem, ao falar do processo de criação do poema e dos elementos do poeta no próprio poema. Como já o fizeram tão bem, João Cabral de Melo Neto e Geraldino Brasil. Fontes em que pouco ou nunca bebeu – mera coincidência, fato inexplicável, ou melhor, coisa de poeta.
Ela nos presenteia neste capítulo, no poema “Dos órgãos dependentes” a imagem da suficiência e, às vezes, o interdizer da língua portuguesa e de qualquer outra língua, de expressar a cogitação com plenitude e aos sentimentos mais universais do poeta. Ao escrever: Sentimentos.../ não os sei passar para o papel?/ parece que vão explodir/ da cabeça ao coração,/ do coração à garganta,/ da garganta à língua - / farta, fértil, frágil e singular.
Em “O papel”, no trecho: olhei-o de uma só vez/ e lá estava ele, branquinho.../ atirei-lhe, então, os sentimentos/ e tornei-o vivo./ já não era vazio. Cecília Villanova neste raro momento nos mostra o lirismo ao ver o intrínseco, o melhor, de que ao papel compete um poema.
Nos poemas “Gestação I” e “Gestação II” sente de forma incisa e indagativa feito uma mãe, na certeza e incerteza da gravidez e de parir ou não o rebento-poema para o mundo. Ao nos passar estes versos: Esperar que as letras/ se cruzem no pensamento/ e se formulem palavras concretas/ é o que neste momento espero./ Mas, como sinto, logo não exaspero.// Adormece em mim um poema./ Ele está mais vivo aqui dentro/ que no papel frio creio./ Será necessário amadurecê-lo/ e tê-lo?
Por saber que o processo de criação do poema não deixa o poeta incólume. A poeta compõe os versos: - Um poeta escreve/ e rasga seus sentimentos. In Auto flagelo.
Em OUTROS POEMAS, ela usa propriamente a linguagem para temáticas diversas, universais e eus poéticos.
Usa, por exemplo, o eu poético de uma pessoa idosa, sagaz e resignada, ao compor os versos no poema “Tempo”, neste trecho: É; O espelho não mente,/ ele mostra nossa cara/ pra cara da gente./Mostrou-me as horas/ que ficaram pra trás/ e que estavam estampadas/ nas rugas do meu rosto.
Há intertextualidade ou similitude em “A esmo”, nos versos: Lá sentir-me nuvem - / doce algodão/ a deslizar no céu/ e só passar, passar, passar.../ . Com Charles Baudelaire. E em “vida”, nos versos: Estamos sempre em movimento./ em que cita, de modo científico e filosófico, Einstein. E belamente, completa: Logicamente, eis aí a vida.
Mostra o lado intrépido da juventude, quando arrisca resolver um dos problema que aflinge o ser humano, que é a dúvida. Soluciona ela: Dúvidas.../ O que fazer com elas?/ Duvide delas!
Cecília Villanova, caminha, em “O homem e o objeto” pelo terreno do poema-processo. Insiste e brinca de modo sério com estas palavras do título de forma desmembrativa e real.
Por perceber que a poesia e irmã rebelde da filosofia, marginalmente diz: Tudo muda a cada instante./ A vida passa e permanece/ no outro/ bem próximo e distante./ In Tormento.
Na terceira parte do livro, a poetinha homenageia e agradece ao seus ancestrais pela genética e cultuação da poesia ao publicar um poema em mote e glosa dos avós materno e paterno.
Enfim, Cecília Villanova – Um armazém poético, provocará no leitor com a sua poesia o prazer pelo poeta, poema e embate razão-sentimento.
O livro trás a sublimidade que remexerá os sentidos e a inteligência do leitor.
Está aí mais uma poeta independente de geração ( nada contra as gerações ). Atemporal e universal.
Torço para que sua verve poética ultrapasse a piscina-esgoto do Capibaribe.
Cecília Villanova, parece dizer: “— Só a poesia me serve.”
Fred. Caminha – poeta
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